1º Domingo da Quaresma
Para compreender quem é e o que fez Cristo, é preciso compreender onde estava o homem sem Ele. Estava na situação de Adão. E Cristo nos liberta do pecado original e portanto da morte.
Costumo falar muito em Adão; é alegoria ou é texto literal? Nem lá nem cá. Vejamos o que diz o Catecismo: n. 390, após falar do homem, ao falar da queda:
“O relato sobre a queda (Gn 3) utiliza uma linguagem feita de imagens, mas afirma um acontecimento primordial, um fato que ocorreu no início da história do homem. A Revelação dá-nos a certeza de fé de que toda a história humana está marcada pelo pecado original cometido livremente pelos nossos primeiros pais.”
Nem lá, nem cá. Aquilo de que a Igreja não pode abrir mão é da doutrina do pecado original, fato histórico ocorrido nos primórdios. Nem chega a afirmar o monogenismo, mas vê dificuldades em conciliar o poligenismo com essa doutrina.
O mais importante nisso tudo: a doutrina do pecado original é revelada por Cristo, e só por ele. O texto fundamental (não o único, mas o principal) do pecado original não é Gn 3, mas sim Rm 5. É ali que Paulo insiste repetidamente: pecado de Adão, graça de Cristo muito maior.
Eis o Deus que se faz homem. Tendo expulsado o homem do paraíso, como quem referenda sua decisão de esconder-se, sai de si e desce ao deserto ao encontro desse mesmo homem; não o abandona.
Espírito o impele ao deserto para ser tentado. Notável. Isso para vencer a tentação, dar-nos o exemplo, mostrar a que veio e a que não veio. E o diabo se expõe, destila seu veneno, mostra suas fraquezas, sua revolta, seu ressentimento, suas carências, bem como sua malícia e sutileza.
Jesus não veio para beneficiar a si mesmo (bem ao contrário!), nem para convencer por obras admiráveis e espantosas, nem para conquistar o mundo a qualquer custo; Deus em primeiro lugar.
Caminhemos com ele no deserto, e não sozinhos, pois seremos vítimas de satanás. Não precisamos temê-lo. Quem teme a Deus não precisa ter medo de satanás, nem de nada. Caminhemos com Cristo, e não precisamos ter medo do deserto. Ele nos conduz de novo ao Éden, ao paraíso na amizade com Deus.
Eis nossa vida na terra, e assim o período da quaresma nos aparece como uma imagem litúrgica da nossa caminhada na terra. A Quaresma é caminhada para a Páscoa, e nossa vida é caminhada para a vida eterna. Não há Páscoa sem paixão e morte de cruz, como para nós não há ressurreição e vida eterna sem morte para este mundo. A morte é apenas passagem, por isso não tememos nem nos desesperamos. Aliás, Páscoa significa precisamente isto: passagem, da morte para a vida.
Na quaresma somos chamados a sacrifícios e privações, assim como na vida. Mas mesmo aí mantemos a alegria. É tempo de empenho e reflexão, mas não de desânimo ou abatimento. É renovação do batismo, no qual morremos e ressuscitamos com Cristo. Vemos a quaresma não como um fardo pesado, mas como um dom precioso, uma graça e oportunidade para aprofundar nossa comunhão com Deus, escutar o que nos diz pela sua Palavra, desapegar-nos das coisas supérfluas e passageiras desta terra.
Façamos nossos propósitos de esmola, jejum e principalmente oração. E dentre as propostas de oração, a minha sugestão: contato diário com a Palavra de Deus, pelo menos 5 minutos por dia – todo dia. Mas qual texto? O melhor é que seja o da liturgia do dia (ao menos o Evangelho). Quem medita 1ª leitura, salmo e evangelho, 20 minutos por dia na quaresma já está bem, com um ótimo propósito.
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