sexta-feira, 15 de julho de 2011

O joio, o trigo e a santidade da Igreja

Catecismo da Igreja Católica, nº 827: «Enquanto que Cristo, santo e inocente, sem mancha, não conheceu o pecado, mas veio somente expiar os pecados do povo, a Igreja, que no seu próprio seio encerra pecadores, é simultaneamente santa e chamada a purificar-se, prosseguindo constantemente no seu esforço de penitência e renovação». Todos os membros da Igreja, inclusive os seus ministros, devem reconhecer-se pecadores. Em todos eles, o joio do pecado encontra-se ainda misturado com a boa semente do Evangelho até ao fim dos tempos. A Igreja reúne, pois, em si, pecadores alcançados pela salvação de Cristo, mas ainda a caminho da santificação.
A Igreja «é santa, não obstante compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui em si outra vida senão a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação da sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por estas faltas, tendo o poder de curar delas os seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo».

A Igreja tem pecadores no seu seio, e a parábola do joio mostra que Jesus já previra essa situação. No Antigo Testamento, o povo de Israel era santo porque era separado para Deus. Não se misturavam com os povos de cultos pagãos, não cultuavam outros deuses. Eram puros para o Senhor. Mas no Novo Testamento, a santidade não é estar separado para Deus, e sim unido a Deus. E esta é a vocação universal da Igreja, a santidade, para todos e cada um de seus membros.

Transcrevo abaixo algumas reflexões minhas surgidas nas aulas de Eclesiologia, ministradas pelo Pe. Dudu, no curso de Teologia, no Seminário São José:

“Não se pode chegar ao extremo de pensar a Igreja como santa em todos os seus membros. Mas também não se pode ver só pecado, considerar todos somente pecadores. E não se pode separar aquela Igreja fundada por Cristo da Igreja atual. Nem cada indivíduo de sua comunidade. Também é errada a seguinte concepção: santa é a alma da Igreja (o Espírito Santo) e pecadora é o corpo, os fiéis. Não se pode separar assim corpo e alma, nem o Espírito Santo dos membros da Igreja, pois é nestes que o Espírito age.
Se se resgata a Igreja como povo de Deus, necessariamente recupera-se, como consequência, a dimensão pecadora da Igreja enquanto este povo. A questão é difícil. A santidade da Igreja não é somente etérea, ou seja, abstrata. É santidade concreta, na vida de tantos fiéis. Por outro lado, então, o pecado da Igreja não seria só dos membros, mas dela mesma? De fato, não se pode separar Igreja-conceito e Igreja-membros. Como entender esse paradoxo? Ou seja, como poderia ser a Igreja pecadora em si mesma, e não apenas nos seus membros?
Talvez seja como Cristo, que sendo perfeitamente santo e imaculado, assume todo o pecado do mundo e se faz maldito (cf. Cl 3, 13), e mesmo sem aspecto humano, parecendo um verme desprezível, como profetiza Isaías (cf. Is 53), continua sendo tão belo, o mais belo entre os filhos dos homens (cf. Sl 44 [45]), perfeito Deus e perfeito homem. Assim também a Igreja, chamando a si todos os pecadores, aparece cheia de rugas, imperfeições e pecados, mas nem por isso deixa de ser bela. Bem ao contrário, por isso mesmo torna-se ainda mais bela, porque por amor a cada pecador expõe-se totalmente.
É santa e pecadora. Mas, como diz São Paulo, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20). O fiel que peca não deixa de fazer parte da Igreja, pode estar seguro quanto a isso. Mas é membro enfermo. De qualquer modo, o novo povo de Israel – a Igreja – não faz como o antigo Israel, que extirpava do seu meio todo o mal. A Igreja não; ela perdoa, acolhe; torna-se portanto menos pura e “santa” enquanto separada; mas também se torna mais caridosa e materna.
Por fim, Cristo amou esta Igreja concreta, esta mesma que vemos hoje, mesmo ciente de todos os seus pecados e infidelidades. Não se entregou por uma Igreja ideal, abstrata, mas por essa Igreja real, fraca e limitada que temos. É esta a sua esposa, que nasce do seu lado aberto na cruz, e da qual o divino esposo não se divorcia, mesmo diante de suas traições.”
___________________________