segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eucaristia: o mistério da fé, o centro de tudo

A solenidade de Corpus Christi – o Corpo de Cristo – celebra a Eucaristia, o maior capricho de Jesus para os seus discípulos. Toda a vida de Jesus parece apontar para este Santíssimo Sacramento tanto quanto aponta para a cruz. E de fato, são mistérios inseparáveis. O sacrifício da Quinta-Feira Santa, na Santa Ceia, é o mesmo da Sexta-Feira Santa, no Calvário. Por amor, nosso Senhor se entrega a nós por inteiro, até o fim.
Assim como Jesus caminhava decidido para a cruz, planejava já desde o início deixar como herança aos seus discípulos a Eucaristia, o dom do seu Corpo e Sangue. Por isso, toda a sua vida parece ser uma preparação para aquela doação definitiva na véspera de sua Paixão. E Jesus passa sua vida pública dando sinais disso, como quem escreve seu testamento. Nos seus milagres, faz uso dos elementos que utilizaria para a Eucaristia: multiplica pães, transforma água em vinho; e também quanto a Si mesmo, quando, por exemplo, anda sobre as águas. Assim Jesus mostra que tem domínio sobre todas essas criaturas e sobre Si mesmo, e que portanto tem poder de dispor delas para realizar o milagre eucarístico. Já os Padres da Igreja faziam notar: Deus criou todas as coisas a partir do nada apenas com sua palavra; pois bem, é esta mesma Palavra que diz com a eficácia que lhe é própria: “Isto é o meu corpo; isto é o meu sangue”.
Querendo permanecer com os discípulos, mas tendo de voltar para o Pai, Jesus encontra essa forma de ir embora e ficar conosco ao mesmo tempo. Querendo deixar uma herança para nós, seus irmãos, mas sendo pobre e não tendo nada para nos dar, deixa-se a Si mesmo. Mas com isso dá-nos toda riqueza que poderíamos desejar, pois quem tem a Deus tem tudo, nada lhe falta. Jesus se dá a nós como nosso alimento, como remédio para nossas fraquezas, para estarmos em plena comunhão com Ele. Na Eucaristia, como na cruz, Jesus em seu amor extremo se sacrifica por nós, morre para que tenhamos vida.
E por que terá escolhido pão e vinho? Há inúmeras razões, certamente. Mas uma delas é que tais alimentos supõem o trabalho. Não se colhe pão de uma árvore, não se recolhe vinho de um córrego. Desde o plantio e colheita da uva e do trigo, passando por todas as outras etapas até a elaboração final, o trabalho do homem está escondido no pão e no vinho. Parece que Jesus quer nos mostrar o valor do nosso esforço cotidiano; quer nos dizer que estará conosco todos os dias, mas espera que façamos a nossa parte. A comunhão traz em si o comprometimento com Deus e Sua obra, e exige a oferta amorosa de tudo o que fazemos. Como costumamos repetir, Ele poderia ter feito tudo sozinho, mas preferiu contar com nossa ajuda. Não importa se é pouco o que temos a oferecer-Lhe. A generosidade de um menino com cinco pães permitiu a Jesus alimentar uma multidão. Daí também o sentido da partilha do pão. Devemos oferecer à Igreja, à comunidade os dons que temos; a comunhão traduz-se nessa troca.
Além disso o pão possui uma peculiaridade: já no dia seguinte à sua fabricação, está velho. Também nós devemos contar com a graça de Deus dia após dia. Nossa obra passada já está velha; tudo o que já fizemos de bom ontem deve ser renovado hoje. É preciso trabalhar para Deus todos os dias, contando com Sua graça. Como pedimos no Pai-Nosso, dá-nos hoje o pão de cada dia. Por outro lado, com o vinho talvez ocorra justamente o contrário: o velho é melhor, como reconhece Jesus (cf. Lc 5, 39). A tradição tem seu valor, o que passou está velho, mas não ultrapassado, não perdeu sua importância. Assim, a Eucaristia mostra que o bom discípulo “é semelhante ao pai de família que tira coisas novas e velhas do seu tesouro” (Mt 13, 52).
Muitos outros sinais estão no pão e no vinho: a simplicidade e o fácil acesso ao pão, sinais da presença de Deus conosco; a festa e a alegria do vinho, sinais da nossa verdadeira alegria em Deus, e tantos outros ainda. Mas um aspecto que não podemos esquecer é a valorização de toda a criação, também do que é corpóreo, material. A Igreja não se ocupa apenas do espiritual; nosso Senhor, ao nos dar seu Corpo e Sangue como alimento, enaltece toda a criação, o aspecto material das coisas. Tudo foi criado por Deus, que viu que tudo era bom. Foi o seu Sangue derramado que redimiu toda carne, e é este Sangue que nos é dado como alimento.
Enfim, o Deus soberano, o Criador do universo e Juiz universal se entrega em nossas mãos. Isto deveria causar sempre um profundo espanto em nós... Peçamos a Deus a graça de aproximar-nos deste Santíssimo Sacramento com toda a piedade e devoção, lembrando as palavras de Santo Agostinho, ainda no século V: “Ninguém coma deste Pão sem antes adorá-lo”. Senhor, “dá-nos sempre deste Pão” (Jo 6, 34), e dá-nos um coração adorador, cheio de alegria e ação de graças por tão grande dom.
Meditemos as palavras de São Pedro Julião Eymard, um santo de grande devoção à Eucaristia: “Haverá algo de mais simples do que comparar o nascimento de Jesus no presépio com seu nascimento sacramental no altar e nos corações? Quem não vê a Vida escondida de Nazaré se continuar na Hóstia Santa do Tabernáculo e a Paixão do Homem-Deus sobre o Calvário se renovar no Santo Sacrifício a todo momento e em todos os lugares do mundo? Não está Nosso Senhor tão manso e humilde no sacramento como em sua Vida mortal? Não é sempre o mesmo Bom Pastor, o Consolador divino, o Amigo dos corações? Feliz da alma que sabe encontrar a Jesus na Eucaristia, e na Eucaristia todas as coisas!”
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