quarta-feira, 27 de abril de 2011

Frente a frente, Jesus e Pilatos: quem está livre e quem está preso?

Façamos nossa páscoa, isto é, nossa passagem, como Cristo, que passou deste mundo para o Pai (Jo 13,1). Nós o fazemos quando passamos da nossa vontade para a vontade de Deus; então sim, quando morremos para nós, para os nossos interesses, então ressuscitamos com Cristo para uma vida nova, uma vida de reinado pelo serviço por amor, na vontade de Deus.E assim podemos de fato chamar a Deus de Pai e rezar: “seja feita a vossa vontade”.
Jesus é totalmente livre e nos ensina a liberdade verdadeira. Frente a frente, nós vemos Jesus atado e Pilatos no trono. Jesus está amarrado e ameaçado de morte no banco dos réus. Pilatos é o governador da província da Judeia, está sentado no trono com a autoridade de César e tem um exército de respeito sob seu comando. E no entanto, ao vê-los frente a frente, perguntemo-nos: quem está livre e quem está preso?
Pilatos não tinha nenhum poder, pois tinha medo. Disse a Jesus que tinha autoridade para prendê-lo ou soltá-lo; pois bem, então por quenão o soltou? Afinal, a própria Escritura reconhece que Pilatos sabia que Jesus era inocente e tentava libertá-lo. Não o fez por medo da multidão que pedia sua crucificação. Não quis se comprometer, lavou suas mãos covardemente.
Jesus, ao contrário, é o homem perfeitamente livre. Mesmo que o ameaçassem de morte, Ele estava em paz, pois sabia que cumpria a vontade do Pai. Tudo em sua vida era ação de graças ao Pai, amor, perdão. Não ameaçou, não devolveu as injúrias. Mesmo hostilizado e diante da fúria dos inimigos manteve a serenidade, pois sabia que o Pai estava com Ele.
Durante a nossa caminhada na terra, acompanhemos Jesus, como as mulheres, especialmente Santa Maria, ou como João apóstolo, ou como Simão Cireneu.Aliás, parece-me providencial o nome do Cireneu – Simão –, pois era Simão Pedro quem deveria ajudar Jesus com a cruz. E hoje também, somos nós, a Igreja. Não façamos caso da indiferença da maioria, não tenhamos medo nem do escárnio de alguns. Acompanhemos Jesus e o aclamemos como nosso Senhor também onde Ele é hostilizado. Caso contrário, seremos discípulos medrosos, ou pior, seremos como Pilatos, que reconhecia a inocência e a bondade de Jesus, mas não quis se comprometer. Fé cristã é compromisso.
Se não nos envergonhamos de Jesus neste nosso mundo nem sempre cristão, também Cristo não se envergonhará de nós diante do Pai. Mas se nos envergonhamos d’Ele aqui, também Ele se envergonhará de nós junto do Pai. Que essa desgraça não nos aconteça.
Vemos assim como a Via Crucis é uma alegoria da presença de Jesus do mundo em que vivemos. Enquanto Jesus passava com a cruz, muitos escarneciam, a maioria era-lhe indiferente, cuidava de si. Outros aproximavam-se curiosos, mas não passavam disso. Mas alguns o acompanharam. Hoje a mesma coisa acontece. Alguns escarnecem da fé cristã, a maioria é indiferente, vai cuidar da própria vida. Alguns até se aproximam curiosos, mas não se comprometem. Quanto a nós, somos chamados a acompanhar Jesus em seu caminho pelo mundo, mesmo hostilizados, ajudando-O a carregar a sua cruz.
Todos os cristãos carregamos a mesma cruz: a de Cristo. Cada um tem a sua, umas mais pesadas que outras. Mas se realmente somos irmãos, carregamos os fardos uns dos outros, e assim cumprimos a lei de Cristo. No fundo, todas as nossas cruzes são uma só: a cruz de Cristo. No fim das contas, não sabemos se nós o ajudamos, ou se é Ele quem nos ajuda. De qualquer modo, cabe-nos a disponibilidade de ajudá-lo; isso é ser cristão: acompanhá-Lo.
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