segunda-feira, 28 de março de 2011

Cristo e o testemunho dos profetas

Lendo o Evangelho, não é difícil perceber como Jesus é apresentado – e apresenta a si mesmo – como aquele de quem falam os profetas. Mais que um grande profeta, Jesus é o alvo das profecias. Sendo a Palavra que se faz carne, é nele que todas as profecias se cumprem. Todos os profetas o apontam, e não apenas com suas palavras, mas também com sua vida (e João Batista também com o dedo).
Assim se vê a lógica de todos os profetas terem sido mortos em Jerusalém, perseguidos, tratados com desprezo e zombaria. Assim se entende a palavra dada a Isaías, e que introduz, nos Evangelhos sinóticos, as parábolas de Jesus. Estas servem para que os homens não o compreendam e não se convertam (Mt 13, 1-23 e paralelos). Só cumprindo o destino da morte de cruz será desvelada a verdade. O grão de trigo precisa morrer para dar fruto (Jo 12, 24).
Tomando um exemplo bem claro, vemos Is 53, citado inclusive nos Atos. O texto narra o destino do Servo sofredor. Hoje lemos o texto à luz do Evangelho e não é nada difícil ver que o profeta prenuncia Jesus. Chegamos a esquecer que tal texto foi produzido muitos séculos antes de Jesus. E é curioso perceber como nunca os judeus poderiam conceber que este personagem seja rigorosamente o mesmo que o Messias esperado, o rei e sacerdote a quem é concedido todo poder e honra. E de fato, à pergunta do eunuco (At 8, 26-40), as duas respostas são possíveis, e talvez sejam complementares para o anúncio autêntico do Evangelho. Todas as profecias falam sobre Jesus (Lc 24, 25-27).
Assim Jesus amarra em si todo o Antigo Testamento. Ele é o “mais belo dentre os filhos dos homens” (Sl 44), mas é também aquele “que não tinha graça que pudesse atrair nosso olhar, desprezado como um verme, sem figura humana, como alguém de quem escondemos o rosto” (Is 53).

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sentido da Quaresma (tópicos para 1º Domingo)

1º Domingo da Quaresma
      
Para compreender quem é e o que fez Cristo, é preciso compreender onde estava o homem sem Ele. Estava na situação de Adão. E Cristo nos liberta do pecado original e portanto da morte.
Costumo falar muito em Adão; é alegoria ou é texto literal? Nem lá nem cá. Vejamos o que diz o Catecismo: n. 390, após falar do homem, ao falar da queda:
“O relato sobre a queda (Gn 3) utiliza uma linguagem feita de imagens, mas afirma um acontecimento primordial, um fato que ocorreu no início da história do homem. A Revelação dá-nos a certeza de fé de que toda a história humana está marcada pelo pecado original cometido livremente pelos nossos primeiros pais.”
Nem lá, nem cá. Aquilo de que a Igreja não pode abrir mão é da doutrina do pecado original, fato histórico ocorrido nos primórdios. Nem chega a afirmar o monogenismo, mas vê dificuldades em conciliar o poligenismo com essa doutrina.
O mais importante nisso tudo: a doutrina do pecado original é revelada por Cristo, e só por ele. O texto fundamental (não o único, mas o principal) do pecado original não é Gn 3, mas sim Rm 5. É ali que Paulo insiste repetidamente: pecado de Adão, graça de Cristo muito maior.
Eis o Deus que se faz homem. Tendo expulsado o homem do paraíso, como quem referenda sua decisão de esconder-se, sai de si e desce ao deserto ao encontro desse mesmo homem; não o abandona.
Espírito o impele ao deserto para ser tentado. Notável. Isso para vencer a tentação, dar-nos o exemplo, mostrar a que veio e a que não veio. E o diabo se expõe, destila seu veneno, mostra suas fraquezas, sua revolta, seu ressentimento, suas carências, bem como sua malícia e sutileza.
Jesus não veio para beneficiar a si mesmo (bem ao contrário!), nem para convencer por obras admiráveis e espantosas, nem para conquistar o mundo a qualquer custo; Deus em primeiro lugar.
Caminhemos com ele no deserto, e não sozinhos, pois seremos vítimas de satanás. Não precisamos temê-lo. Quem teme a Deus não precisa ter medo de satanás, nem de nada. Caminhemos com Cristo, e não precisamos ter medo do deserto. Ele nos conduz de novo ao Éden, ao paraíso na amizade com Deus.
Eis nossa vida na terra, e assim o período da quaresma nos aparece como uma imagem litúrgica da nossa caminhada na terra. A Quaresma é caminhada para a Páscoa, e nossa vida é caminhada para a vida eterna. Não há Páscoa sem paixão e morte de cruz, como para nós não há ressurreição e vida eterna sem morte para este mundo. A morte é apenas passagem, por isso não tememos nem nos desesperamos. Aliás, Páscoa significa precisamente isto: passagem, da morte para a vida.
Na quaresma somos chamados a sacrifícios e privações, assim como na vida. Mas mesmo aí mantemos a alegria. É tempo de empenho e reflexão, mas não de desânimo ou abatimento. É renovação do batismo, no qual morremos e ressuscitamos com Cristo. Vemos a quaresma não como um fardo pesado, mas como um dom precioso, uma graça e oportunidade para aprofundar nossa comunhão com Deus, escutar o que nos diz pela sua Palavra, desapegar-nos das coisas supérfluas e passageiras desta terra.
Façamos nossos propósitos de esmola, jejum e principalmente oração. E dentre as propostas de oração, a minha sugestão: contato diário com a Palavra de Deus, pelo menos 5 minutos por dia – todo dia. Mas qual texto? O melhor é que seja o da liturgia do dia (ao menos o Evangelho). Quem medita 1ª leitura, salmo e evangelho, 20 minutos por dia na quaresma já está bem, com um ótimo propósito.
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