Lendo o Evangelho, não é difícil perceber como Jesus é apresentado – e apresenta a si mesmo – como aquele de quem falam os profetas. Mais que um grande profeta, Jesus é o alvo das profecias. Sendo a Palavra que se faz carne, é nele que todas as profecias se cumprem. Todos os profetas o apontam, e não apenas com suas palavras, mas também com sua vida (e João Batista também com o dedo).
Assim se vê a lógica de todos os profetas terem sido mortos em Jerusalém, perseguidos, tratados com desprezo e zombaria. Assim se entende a palavra dada a Isaías, e que introduz, nos Evangelhos sinóticos, as parábolas de Jesus. Estas servem para que os homens não o compreendam e não se convertam (Mt 13, 1-23 e paralelos). Só cumprindo o destino da morte de cruz será desvelada a verdade. O grão de trigo precisa morrer para dar fruto (Jo 12, 24).
Tomando um exemplo bem claro, vemos Is 53, citado inclusive nos Atos. O texto narra o destino do Servo sofredor. Hoje lemos o texto à luz do Evangelho e não é nada difícil ver que o profeta prenuncia Jesus. Chegamos a esquecer que tal texto foi produzido muitos séculos antes de Jesus. E é curioso perceber como nunca os judeus poderiam conceber que este personagem seja rigorosamente o mesmo que o Messias esperado, o rei e sacerdote a quem é concedido todo poder e honra. E de fato, à pergunta do eunuco (At 8, 26-40), as duas respostas são possíveis, e talvez sejam complementares para o anúncio autêntico do Evangelho. Todas as profecias falam sobre Jesus (Lc 24, 25-27).
Assim Jesus amarra em si todo o Antigo Testamento. Ele é o “mais belo dentre os filhos dos homens” (Sl 44), mas é também aquele “que não tinha graça que pudesse atrair nosso olhar, desprezado como um verme, sem figura humana, como alguém de quem escondemos o rosto” (Is 53).